Andréa Sumé

Minha História

Aos 13 anos fui parar em um consultório de psicologia.
A convite de meus pais, que perceberam em mim inquietações, sensibilidades, estranhezas e esquisitices, fui levada aos atendimentos psicológicos semanais que duraram bons e longos anos.

A sala de terapia se tornou um lugar seguro onde a fala e a escuta dialogavam com as angústias, impulsos e ansiedades.
A atenção aos sonhos, sempre tão presente na dinâmica do meu psiquismo, convocavam minha pessoa a um mergulho profundo nesse mar de humanidade.
Foi lá, na sala de terapia, que fiz o encontro real com minha natureza e soube, desde pequena, que o ofício da psicologia também era minha vocação.

No desejo de conhecer a essência existencial, busquei a formação na ciência da Psicologia.

Freud e Reich se tornaram uma espécie de amigos íntimos no estudo de suas teorias, práticas e análises. O Psicodrama de Moreno e a Bioenergética de Lowen despertaram em mim a paixão incurável pela terapia de grupo.
Mas quando fui apresentada a Jung, um sentido ainda mais amplo me tomou. Aceitei o convite do inconsciente e caminhei na travessia dos saberes míticos da alma. Fui chamada pela intuição a explorar outros conhecimentos e tradições.

Os ritos xamânicos, o budismo tibetano, os círculos femininos e o yoga entraram em mim para sempre.
Geralmente, eu era a mais jovem (17 aninhos) entre o grupo de tantas mais velhas. Fui “adotada” por muitas mulheres bruxas, conhecedoras e curadoras do campo espiritual. Cada uma delas trazia um presente, um ensino

Nesse mesmo tempo encontrei um grande amor, Eduardo Coelho, meu companheiro de caminhada. No percurso desses 30 anos estamos amadurecendo juntos e trilhando as profundezas de uma iniciação aos mistérios do masculino e feminino. Um vínculo poderoso que transformou nossas vidas para sempre e nos possibitou fazer escolhas diferenciadas na nossa relação com o mundo.

Todas essas interações humanas foram provocando uma mudança de perspectiva da minha realidade. Lembro muito bem do dia em que percebi estar crescendo para além dos limites familiares conhecidos e ter a numinosa sensação de estar ocupando meu lugar.

A gratidão que devoto a meus pais é imensurável por terem reconhecido minhas estranhezas e aceitarem o fato de que não dariam conta de cuidar daquela menina esquisita sozinhos. Pediram ajuda, e essa ajuda orientou toda a minha vida.

Concluí minha formação em 1999. Desde então atuo como Psicóloga Clínica. Iniciei meu trabalho como psicoterapeuta infantil e fiz especialização em Psicoterapia Familiar Sistêmica. A Terapia de Casal também ganhou atenção especial no território do meu trabalho.

A Constelação Familiar chegou trazendo o fio que costura o rasgo, refazendo os laços e desatando o nó dos relacionamentos.
Foram intensos processos de terapia de grupo, estudo e formação.

Os saberes ancestrais, a natureza, a música e a poesia teceram em mim pontos firmes de estrutura e sustentação.

As narrativas subjetivas do meu corpo selvagem foram sendo paridas em Rodas de Cura e na vivência íntima com a Medicina da Ancestralidade.

Em volta da fogueira escutei tantos ensinamentos, vivi tantos ritos, consagrei plantas, aprendi remédios. Conversei com dimensões imaterias do espírito.
Xamãs, lideranças e abuelas que trouxeram até mim o caminho dos saberes da Terra.
Aprendi com o tambor a tocar o Coração do Céu e cantar ao ventre das estrelas a gratidão em pertencer a Teia da Vida.

Recebi o nome Sumé de um pajé Tuyuca da Amazônia. Nesse encontro de cura que marcou para sempre meu caminho, o pajé me contou que Sumé é uma função na sua aldeia – “unir o coração das pessoas numa grande roda para reuniões de tranquilidade.” Ele me orientou a colocar o nome Sumé depois do nome que meus pais haviam me dado para que minha missão de alma se cumprisse.
Assim foi.
Assim é.

O amor de casal virou família. Gestamos o maior rito de passagem das nossas vidas num partejo natural com a chegada do nosso menino.
Aruã, espírito da montanha, alma livre que nos convocou para viver na presença cotidiana com a natureza e nos trouxe até a floresta onde vivemos.

No coração da Mata Atlântica, chegamos aos pés dessa vigorosa montanha de nome Monte Crista.
O rio cristalino que aqui corre lavou as durezas da personalidade e aparou arestras essenciais para a construção de quem somos hoje.

Ao longo desses 15 anos longe dos centros urbanos, fomos tecendo conexões, inspirações e desafios, curando antigas feridas e despertando nossa natureza original.

Inspirada pela arte, cura e conhecimento, fui unindo dimensões e criando ritualísticas no intento de corporificar um desejo. Esse desejo continua me movendo na busca por mais sentido ao ato de viver.

Seja em grupo ou na clínica, em círculo ou no divã, o espaço da terapia é um Lugar Sagrado.
Uma fenda no tempo onde segredos e revelações se encontram.
Nesse Lugar Sagrado elaboramos o mistério de nossa humanidade e alquimizamos a potência que somos.

Das bruxas lacanianas às feiticeiras da psicanálise, honro cada terapeuta que me orientou no resgate de ser quem sou e que me acompanha até hoje nesse mar de travessias interiores. Agradeço meus professores que me ensinaram em sala de aula o olhar atento às feridas da alma.
Ao espaço seguro para crescer e me transformar, ao seio da minha família que regenerou vínculos e aprofundou os laços de amor.
As aldeias que me trouxeram de volta para casa, aos pajés e seus saberes, minha reverência.

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