Andréa Sumé

Sou gente

Que pena que nasci gente.

 
Às vezes queria ser fogo. Arder de luz e transformar o corpo.


Tem horas que desejo ser água. Encharcar o rio que oceaniza a vida e mergulhar profundo num lugar absolutamente vazio. 


Mais quando quero ser vento, forma em mim uma corrente de ar que de tão intensa atravessa os sentidos e me faz suspirar. Num sopro arrebento as amarras do tempo e vôo feito asa, sem destino para conquistar. 


Das vezes que o desejo me tomou e bati o pé no chão para ser terra, firmei um pacto que me devorou.
De tão firme virei árvore. Tronco folha seiva fruta calor.

Mas tá certo ! 
Aceito minha condição humana …só se for para ser amor.

Só se for para ser assim, exatamente como sou. Só se for para assistir a angústia lamber a culpa e a inocência , e no final presenciar a humanidade morar em mim contente.

Aceito. Afinal, sou gente.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima