Quando a vela se acende no caldeirão posso recordar toda a história do ventre e caminhar com meus antepassados.
Na linha infinita que une mãe e avós, as antigas bruxas que vivem na floresta escura das memórias saltam do inconsciente e posso nitidamente olhar para todas elas e reconhecer o que de mim ainda permanece junto delas .
A vela que ilumina o caldeirão se torna uma ponte , um veículo nas mágicas histórias do feminino que acende a lembrança de nossa mais profunda conexão.
É assim que um elo sagrado entre mundos se faz tão presente e posso novamente caminhar pelas gerações passadas e percorrer o fio misterioso que enlaça a existência.
Entre eu e elas não existe abismo.
O caldeirão é nosso segredo contado aos quatros ventos que eleva o sentido do pertencimento.
Escorre pelas pernas o líquido vermelho, e o primeiro dia de sangue é encontro marcado: dia de estar junto delas. Cumpro o antigo ritual de devolver o sangue menstrual para a terra resignificando todas as experiências, crenças, frustrações e expectativas.
Um cheiro doce na terra molhada resgata a sensação arquetípica de ser Pachamama.
Faço o caminho de volta para casa quando meu sangue rega a raiz de quem sou. Ali planto um encontro com todas as mulheres do meu clã.
O caldeirão é a lembrança de nosso útero.
A vela ilumina as profundezas do abismo que não nos separa.
Estamos conectadas.