Andréa Sumé

Crônica da alma

A espiritualidade não traz recompensa. Nenhuma. 
Houve muitos equívocos na tradução de linguagem entre oriente e ocidente.

 
Nossos povos indígenas nunca falaram de ego (graças a Tupã!), mas citam histórias absolutamente interessantes sobre como ouvir a mente e percorrer as trilhas até o alto da montanha. 


Seguindo esse saber Guarani, o papagaio e a onça são os guias guardiões deste trajeto.

Escolher o papagaio como companheiro dessa jornada vai te levar bem depressa ao topo da montanha. Você vai percorrer todo o caminho ouvindo seus julgamentos, comparações e acusações. Bastante falatório interno, o que esse povo chama de nhenhenhem (sim ! essa é uma expressão Guarani.) 
Repito, repito, repito o falatório quantas vezes for preciso para aprender a abandonar o que acredito que necessito. Enfim, chegaremos ao topo da montanha cansados e esgotados, talvez sem nem mesmo ter olhado o bonito caminho que percorremos. Esvaziados e longe da nossa natureza original.

A escolha de chegar ao alto da montanha na companhia da onça requer bem menos ansiedade. O caminho é mais longo e um tanto cauteloso.
Não vamos conduzir o caminho. Seremos conduzidos. 
Vou estar tão em sintonia com cada passo dado que, como a onça, me tornarei um farejador.
Estarei bem próxima dos meus medos, ciente do repouso e das pausas necessárias para concluir o destino incerto que me propus. Estando totalmente fora do jogo da mente e em total conexão com a natureza original que pertenço, chegarei ao alto da montanha cheio de energia, com uma vitalidade bastante alta e com a clareza de propósitos que preciso para realizar minhas aspirações.

São muitos morros percorridos para chegar ao topo de uma única montanha.

Faço oferendas ao papagaio e a onça, e reconheço que essas duas forças caminham como guia do percurso da humanidade.
Junto comigo, o papaigo hoje quer cantar loucamente Clara Nunes e a onça pede por aquele gole de água gelada na beira do rio. 
Um cachimbo. Um sopro. Olhar na direção do sol e da lua.

Esse é um saber precioso que carrego comigo : a única “recompensa” na trajetória natural do espírito, é a consciência do caminho. 


É suficiente essa perspectiva. Tão direta , como somente um povo que carrega arco e flecha nas mãos sabe ser.

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