Não te recordas, minha filha ?
Que triste agonia viver achando que está separada da magia.
Da terra, você é pó e alimento. Danças com o vento a sinfonia das esferas e tua casa é somente um lugar no ventre da mãe.
Um respiro. Um acalento.
Você é feita de fogo, tua roupa original é a luz do sol e teu vestido prateado está bordado com trançados da luz do luar.
Não te recordas, minha filha ?
Difícil é caminhar sem a lembrança de tua essência.
Você é a voz das águas e tuas curvas são as mesmas do corpo da montanha.
Não vê ?
Somos parte de uma mesma natureza.
Teu desejo é ser maior do que não és, porque pensa tão pequeno e não reconhece a grandeza de todo o infinito que já habita em ti.
Aflita, segue restrita e não fareja mais as trilhas secretas que te levam ao meu encontro.
Mulher, você é alimento e fruto. Exatamente como eu.
É você quem nutre o mundo.
Do teu ventre nasceu toda a humanidade assim como meu ventre pariu toda a vida que vive no solo desse chão.
Nossos ciclos caminham na mais perfeita sintonia. Da primavera florida aos invernos mais intensos, da lua negra que míngua e recolhe até o brilho encantador que nos enfeitiça. Do poder da fertilidade, nosso segredo revelada às vísceras do nascimento.
Nosso rito.
Nossa bruxaria.
Você é terra .
Você é alimento.
Você sou eu.
Parteiras de um novo tempo.
Somos Pachamama.