Andréa Sumé

Raízes

Apropriação cultural ?

Minha filha, sou árabe. Neta de libaneses.

Vi meus avós fazendo roda e dançando como loucos (em transe!) na sala da casa da tia. 

Foi daí que nasceu o desejo visceral em buscar o ancestral.

Cantorias em volta da fogueira. 

Tios músicos. Primos poetas. Composições que formam esse pequeno grão que sou.

Meu faro me guiou para as aldeias. Ritos e rituais fundamentais que deram norte ao sentido que me guia.

Sonhei com algumas vidas que tive, independente se acredito ou não em outras vidas, posso dizer também que sonhei com a vida de meus antepassados. 

Deixo a crença de lado, porque sei que onde meu coração pulsa forte tem algo meu ali. Sacou ? É um código específico que desenvolvi comigo. Meu corpo fareja pedaços esquecidos. É assim que vou me formando como um cidadão que reconhece sua alma.

Uso turbante para reverenciar a senzala da onde venho.

As ervas que colho e uso nos benzimentos, são em honras a toda a ancestralidade que tenho. 

Meu caldeirão é meu próprio ventre. 

Toco maraca porque foi Gaia quem soprou no pé do meu ouvido os poderes dos sons da terra. 

Tambor? Minha Deusa, sem ele eu não vivo. É escudo e espada. Minha alma encarnada. 

As músicas que canto de outros povos? Como assim “outros povos” ?

É o meu povo, minha nação !

Sou filha da Terra e desse chão não pretendo carregar divisão.

Sou índio. Africana, celta, pagã e cristã. 

Independente da tradição, muito além da raça ou crença, incorporei em mim elementos de tantas culturas que foi assim que me apropriei da minha humanidade. 

Um caminho de paz, sem volta, nasceu no peito com este feito.

Quebrem-se as correntes do medo. Aquelas que dividem a mente e criam fronteiras de dominação em tantos níveis. 

Território cultural é patrimônio de todos.

Respeito e reverência ao elo transcultural que nos une.

Nação Terra. Somos Gaia. Filhos desse chão.

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