Andréa Sumé

Sentido

Em rito de passagem, é na noite de Natal que uma antiga cerimônia acontece.

Invisível aos olhos físicos, um tecido espiritual quase translúcido pode atravessar os mundos e completar sua senda. 


É na noite de Natal que recebemos a visita de todas as nossas relações.

Seja na mesa de jantar ou no chão da sala, estejamos em pequenos núcleos ou junto com a grande família, o fato é que nessa noite nossas relações estão conosco.

Dos vivos aos que se foram, dos presentes e dos ausentes, pertencentes ou excluídos, pais, filhos, antepassados. 
Nessa noite, todos os relacionamentos sentam em círculo conosco.

A degustar de um vinho esquecido nos corredores do tempo, a alma da família pede colo e consolo, alegria e embalo. O clã quer ser reconhecido junto a escuta atenta do espírito. E a alma, silenciosamente, ouve o desejo e o julgamento de todos os nossos relacionamentos. 
Além da culpa e da inocência, muito adiante da coragem e dos segredos que estão guardados em nossa família de origem, é na noite de Natal que antigas promessas e acordos são avaliados.

Cada vela acesa neste festejo de cura pode representar um membro da família ou o campo das relações que pertencemos. 


Em especial, uma vela para meu pai e outra para minhas avós. Uma vela para as futuras gerações que desconheço.  Mãe Gaia , Bisavó Fogo. 


Na presença de nossa ancestralidade, o sentido sagrado do natal não precisa ser lembrado, porque nunca foi esquecido. Não precisa ser resgatado porque não está perdido.

Dos mistérios que guardam os ritos da humanidade, acendo o castiçal que ilumina elos antigos, ergo a taça com o vinho mais perfumado que conheço
e celebro Por Todas as Nossas Relações.

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