Passei três meses resistindo a estranha voz interior que me dizia:
“Tira todos os santos da casa.”
E a voz tinha ainda a ousadia de fazer o absurdo pedido da retirada de todos os objetos sagrados que moram em casa .
Como assim ?
Estava meu sagrado sendo roubado?
E essa voz fazia um eco de negação dentro de mim. De tão banida, nem mesmo por mim era ouvida. Minha alma, cristã e pagã, não concebia tamanha desonra as minhas origens.
Uma hora encarei.
Olhei na cara da voz e perguntei : Tá, e daí ? E para onde levo meus santos e as imagens do sagrado que tanto estimo?
Um suspiro. Um clarão.
Na hora que mergulhei fundo nos olhos da voz, pude ver o belíssimo altar. Tudo que é de mais sagrado, e que acompanha a história da minha família, em um único lugar.
Os três caldeirões finalmente juntos, os dois pilões, os cinco petanguas que acumulei diante do tanto de rezos já consagrados. Sete deusas e deuses bem posicionados e os santos quebrados que foram enfim para o destino da fogueira.
Entre perfumes e aromas, cristais, penas e unguentos, concebi o templo tão sonhado. Um parto.
Eu que sempre deixei tudo espalhado pelos altares da casa, generosamente estava sendo convocada e criar um Lugar de Poder.
Dei ouvido a voz que negava e materializei um esquecido desejo.
Um sentido simbólico gigantesco me leva a concluir que esta é a metáfora para este tempo que vivo: tantas vozes negadas que foram integradas e tudo o que decidi assumir neste pequeno espaço de tempo chamado 2017.
Posso dizer com segurança que estou bem mais inteira. Peguei tudo que estava espalhado na Casa do Eu e transformei em brilho novo.
E esse lance do altar coroou tudo ! Minha Deusa !
Me mostrou fisicamente o que aconteceu comigo espiritualmente.
Finalmente sinto que estou reunida comigo. Ocupo meu lugar.
Ando assim, bem feliz, em casa. Dando graças a vida e distribuindo meus sinceros agradecimentos a todas as vozes negadas que, por algum motivo, resolvi neste ano escuta-las.
Diante do tanto de vozes que nos acompanha no caminho do existir, possam todas elas capturar a devida atenção que merecem para crescer e viver.
Meu nome é Andréa Sumé e assim eu falei. Hey !