Andréa Sumé

Templo novo

Passei três meses resistindo a estranha voz interior que me dizia: 
“Tira todos os santos da casa.”


E a voz tinha ainda a ousadia de fazer o absurdo pedido da retirada de todos os objetos sagrados que moram em casa . 


Como assim ? 
Estava meu sagrado sendo roubado?

E essa voz fazia um eco de negação dentro de mim. De tão banida, nem mesmo por mim era ouvida. Minha alma, cristã e pagã, não concebia tamanha desonra as minhas origens.

Uma hora encarei. 
Olhei na cara da voz e perguntei : Tá, e daí ? E para onde levo meus santos e as imagens do sagrado que tanto estimo?

Um suspiro. Um clarão.
Na hora que mergulhei fundo nos olhos da voz, pude ver o belíssimo altar. Tudo que é de mais sagrado, e que acompanha a história da minha família, em um único lugar.

Os três caldeirões finalmente juntos, os dois pilões, os cinco petanguas que acumulei diante do tanto de rezos já consagrados. Sete deusas e deuses bem posicionados e os santos quebrados que foram enfim para o destino da fogueira. 
Entre perfumes e aromas, cristais, penas e unguentos, concebi o templo tão sonhado. Um parto.

Eu que sempre deixei tudo espalhado pelos altares da casa, generosamente estava sendo convocada e criar um Lugar de Poder.
Dei ouvido a voz que negava e materializei um esquecido desejo.

Um sentido simbólico gigantesco me leva a concluir que esta é a metáfora para este tempo que vivo: tantas vozes negadas que foram integradas e tudo o que decidi assumir neste pequeno espaço de tempo chamado 2017. 


Posso dizer com segurança que estou bem mais inteira. Peguei tudo que estava espalhado na Casa do Eu e transformei em brilho novo.

E esse lance do altar coroou tudo ! Minha Deusa ! 
Me mostrou fisicamente o que aconteceu comigo espiritualmente.


Finalmente sinto que estou reunida comigo. Ocupo meu lugar. 


Ando assim, bem feliz, em casa. Dando graças a vida e distribuindo meus sinceros agradecimentos a todas as vozes negadas que, por algum motivo, resolvi neste ano escuta-las.

Diante do tanto de vozes que nos acompanha no caminho do existir, possam todas elas capturar a devida atenção que merecem para crescer e viver.

Meu nome é Andréa Sumé e assim eu falei. Hey !

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