Em rito de passagem, é na noite de Natal que uma antiga cerimônia acontece.
Invisível aos olhos físicos, um tecido espiritual quase translúcido pode atravessar os mundos e completar sua senda.
É na noite de Natal que recebemos a visita de todas as nossas relações.
Seja na mesa de jantar ou no chão da sala, estejamos em pequenos núcleos ou junto com a grande família, o fato é que nessa noite nossas relações estão conosco.
Dos vivos aos que se foram, dos presentes e dos ausentes, pertencentes ou excluídos, pais, filhos, antepassados.
Nessa noite, todos os relacionamentos sentam em círculo conosco.
A degustar de um vinho esquecido nos corredores do tempo, a alma da família pede colo e consolo, alegria e embalo. O clã quer ser reconhecido junto a escuta atenta do espírito. E a alma, silenciosamente, ouve o desejo e o julgamento de todos os nossos relacionamentos.
Além da culpa e da inocência, muito adiante da coragem e dos segredos que estão guardados em nossa família de origem, é na noite de Natal que antigas promessas e acordos são avaliados.
Cada vela acesa neste festejo de cura pode representar um membro da família ou o campo das relações que pertencemos.
Em especial, uma vela para meu pai e outra para minhas avós. Uma vela para as futuras gerações que desconheço. Mãe Gaia , Bisavó Fogo.
Na presença de nossa ancestralidade, o sentido sagrado do natal não precisa ser lembrado, porque nunca foi esquecido. Não precisa ser resgatado porque não está perdido.
Dos mistérios que guardam os ritos da humanidade, acendo o castiçal que ilumina elos antigos, ergo a taça com o vinho mais perfumado que conheço
e celebro Por Todas as Nossas Relações.